Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e meu próprio mundo especificado para trazê-las, e eu garanto tomar qualquer uma aleatoriamente e treiná-la para se transformar em qualquer tipo de especialista que eu escolher - médico, advogado, artista, comerciante e até mesmo mendigo e ladrão, a despeito de seus talentos, inclinações, tendências, habilidades, vocações e raça de seus antepassados. Watson, J.B. Behaviorism, 1930, p. 82.
Vamos combinar que essa afirmação de Watson não ajudou a criar muita simpatia em relação ao Behaviorismo! Advogando um pouco em seu favor, penso que devemos considerar o contexto em que isso aconteceu. Watson era um pioneiro e, proclamando ideias tão diferentes das usuais, precisou ser um pouco radical para ser ouvido. OK. Muito radical. Mas devemos também considerar a empolgação de alguém vislumbrando as possibilidades de uma ciência do comportamento humano. Mesmo assim, é claro que essa apresentação do Behaviorismo foi um fiasco de marketing, cujos reflexos são sentidos até hoje.
Para piorar, muitas pessoas confundem as ideias "radicais" do Behaviorismo Metodológico de Watson com o Behaviorismo Radical de Skinner. Ainda mais pela escolha da palavra radical para compor o nome dessa Filosofia (Filosofia porque, segundo Skinner, "o Behaviorismo não é a ciência do comportamento humano, mas, sim, a filosofia dessa ciência". Skinner, B.F. Sobre o Behaviorismo, p. 7). Vejam que a palavra radical vem de raiz e, para Skinner, o comportamento é a raiz do estudo da Psicologia. É seu objeto de estudo por excelência. Esse é um ponto em que os dois concordam: não é a mente que deve ser estudada, mas sim o comportamento. Só que o conceito de comportamento de cada um é substancialmente diferente, como veremos em um próximo post em detalhes.
Watson acreditava que só seria possível fazer uma ciência do comportamento humano a partir de eventos observáveis. Assim, descartou qualquer estudo sobre tudo que era referido (e ainda é, por diversas abordagens) como mental: sentimentos, emoções, pensamentos. Skinner, por outro lado, considera que os eventos que ocorrem "sob a pele" são tão ou mais importantes do que aqueles passíveis de observação por diversas pessoas.
O tão falado paradigma S-R (estímulo-resposta) é pressuposto do Behaviorismo de Watson, não do Behaviorismo Radical de Skinner. O modelo mecanicista, a desconsideração das contribuições genéticas, enfim, grande parte das críticas, estão endereçadas à pessoa (ou à teoria) errada.
Veremos, a seguir, alguns dos principais pressupostos do Behaviorismo Radical.
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